
O silêncio de José nos Evangelhos é algo inquietante e provocativo. Mateus e Lucas - que nos narram a infância de Jesus – não citam uma palavra de José. Todos falam: em Lucas, o anjo Gabriel, Zacarias, Isabel, Maria, os pastores, Simeão, Ana, a profetisa do templo que falava de Jesus, e finalmente, o próprio Jesus. Todos, menos José. Em Mateus, o anjo, os magos do Oriente, os escribas, até Herodes. Todos, menos José. Nem uma palavrinha. Por que não falas, José?
Seria José mudo? Creio que não. Principalmente porque a mudez era sinal de incredulidade – vide o castigo infligido a Zacarias. Mas depois do nascimento de João, o próprio Zacarias irrompeu em um grande louvor. Não, José não era mudo. Então, por que não falas, José?
Quando José descobre que Maria, sua noiva, estava grávida, ele não “arma o barraco” com Maria, nem a denuncia publicamente. Por quê? Se tivesse certeza que a gravidez era fruto de um pecado, sendo José justo como Mateus diz, ele teria certamente aplicado a Lei para apedrejá-la. Mas, não! No fundo, sabia que isto não era possível, conhecendo Maria. Como explicar então esta criança? Mistério.
José toma uma decisão. Silenciosamente, rejeita Maria. Eis então que uma voz do céu rompe o silêncio e uma nova história se inicia: “Não temas receber Maria.” Como o Senhor havia dito a Abraão: “Deixa a tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar.” Gn 12, 1. Como Abraão, José acolhe a Palavra e na fé e no silêncio, vai para a terra que Deus lhe mostra: Maria. “Teve fé e se tornou pai” Rm4, 18. Muito mais que Abraão, torna-se pai do Filho de Deus.
E ele continua silencioso. Mas cheio de atitude. Em todas as circunstâncias, lá está ele. Pai presente. Jesus e Maria são os que se destacam. Mas não é assim também em uma família quando nasce uma criança – as atenções todas não se voltam para o bebê e a mãe?
Enfim, quando Jesus atinge 12 anos, mais uma vez José se depara com uma situação que supera seu entendimento humano, o mistério bate à sua porta de novo: “Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” Lc2, 45 José não entende, mas compreende que como se tornara pai pela fé, seria também pela fé que assumiria sua missão inteiramente.
E Jesus lhe era submisso. Pois não precisava de muitas palavras. Reconhecia a autoridade de seu pai por seus gestos e atitudes.
Como tu falas, José!
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