Pesquisas recentes demonstram que o consumo de chocolate libera a dopamina, substância química responsável por gerar no cérebro sentimentos de prazer e desejo. Esse estímulo concede-nos motivação quando recebemos estímulos negativos, por exemplo em situações de decepção ou diante de um obstáculo inesperado.
Está explicado por que na Páscoa, após devorar caixas de bombons e ovos de chocalate, experimentamos aquela excitação, aquele desejo de "quero mais"! Mas, cá entre nós, chocolate é bom, mas não tem nada a ver com o verdadeiro sentido da Páscoa. É o que eu também achava até me deparar com uma frase de Jesus.
"Desejei ardentemente celebrar esta ceia", foi o que Jesus confidenciou a seus discípulos antes da ceia derradeira e do sofrimento da crucificação. Pensando bem no que Jesus iria enfrentar a seguir, imagino que ele precisaria de uma dose cavalar de dopamina para sentir aquele "desejo ardente" diante de tanta contrariedade, decepção e obstáculos.
No entanto, meditando atentamente sua vida, percebemos que Jesus era insaciável. Não foi suficiente ele, sendo Filho de Deus, ter se encarnado. Ele queria mais. Foi até o povo carente, curou os doentes, libertou os oprimidos, perdoou os pecadores, ensinou a verdade. Mas ele queria mais. Denunciou os hipócritas religiosos, desvendou as artimanhas da política opressora, expulsou os comerciantes do Templo. Mas ele queria mais. Lavou os pés dos discípulos como um escravo, entregou sua vida por nós, foi açoitado, cuspido e crucificado. Mas ele queria mais. Ressuscitou, encorajou seus amigos, voltou ao céu, enviou o Espírito Santo. Mas ele quer mais. Quer me alcançar, que eu o conheça, o ame, o siga, dê minha vida por ele. O que mais ele quer?
Sócrates, o grande filósofo grego, afirmou que o homem não possui a sabedoria, mas um desejo intenso de possuí-la. Freud, desbancando a filosofia cartesiana, apontou o homem não como ser racional, mas como ser de desejo. Fernando Pessoa, enfim, resume esses pensamentos em sua poesia: " Ser descontente é ser homem".
Creio que seja isso que Jesus quer de mim nesta Páscoa: que eu seja profundamente humano, possuindo em mim esse descontentamento. Desejando ser cada vez melhor, buscando sua vontade e a construção de relações justas e éticas.
E um ovinho de chocolate, que ninguém é de ferro.
André Deschamps
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