A parábola do juiz iníquo é introduzida pelo narrador evangelista
com a sua intenção didática: “mostrar aos discípulos a necessidade de rezar
sempre e nunca desistir”
A parábola opõe os extremos: um homem detentor do poder
de decisão, o juiz, que não se importa com o sofrimento das pessoas; e uma
mulher viúva desprovida de bens que é perseguida injustamente por seu
adversário. Quem seria esse adversário? Talvez alguém que lhe acusava
falsamente de um crime ou de uma dívida inexistente.
Porém, diante do clamor da pobre mulher, o juiz iníquo
mostra-se totalmente insensível. A viúva parece não se cansar e “durante muito
tempo” insiste. Insiste em vão. Insiste sem nenhuma resposta. Insiste e se
humilha diante das recusas do juiz.
O impossível acontece. O juiz resolve agir e fazer
justiça à mulher. Mas ele deixa claro que não o faz por temor a Deus ou
respeito aos homens, mas para ficar livre do aborrecimento de uma mulher que
não desistiria de sua causa sendo capaz até de partir para a agressão.
Jesus então conclui, recorrendo às suas perguntas
irresistíveis: “Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite
gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?” O que responder a perguntas tão
provocadoras? Jesus está desafiando o agir de Deus. Ele parece se dirigir às
pessoas que passam pelos desertos de desolação, quando parece que Deus as
abandonou, que ele está ignorando nosso sofrimento – momento em que muitos
desistem, se frustram, se rebelam e abandonam a fé.
Mas Deus é um justo
juiz e fará justiça.A luta contra o mal é longa e difícil; o segredo é a fé, a
esperança, a paciência, a perseverança. Como as mulheres que lutam por seus
filhos sem se cansar. Será que já nos cansamos? Será que perdemos a fé? Eis a
provocação final de Jesus: “mas o Filho do Homem, quando vier, será que ainda
vai encontrar fé sobre a terra?” A fé nos leva a orar e a oração nos leva a
crer.